24.9.05

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida
Tão concreta e definida como outra coisa qualquer
Como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso
Como este ribeiro manso em serenos sobressaltos
Como estes pinheiros altos que em verde oiro se agitam
Como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho,
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alacre e sedento, de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo, num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho, é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral, contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante, rosa dos ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim, florete de espadachim,
bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim,
passarola voadora, pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva, alto forno, gerador,
cisão do átomo, radar, ultra som, televisão;
desembarque em foguetão, na superfície lunar.

Eles não sabem nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha,
o mundo pula e avança,
como uma bola colorida,
entre mãos de uma criança.

António Gedeão

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